segunda-feira, novembro 07, 2005

ALMAS GÉMEAS ?

Num lugar comum, sem encontro marcado,
a vida apresentou-os de forma inesperada, quase cómica.
Ela, adolescente “vanguarda” com aspirações a “punk” (!)
Ele, “moçoilo” algarvio, sotaque cerrado e vestes “demodé”.
Ela, de cabelo vermelho, de negro vestida.
Ele, cabelo “Bart Simpson” e fato treino azul cueca (!)
Ela reservada, calada, quase arrogante.
Ele de sorriso feito, de irritante simpatia.
Ela, de “Headphones”, nostálgica, ao som de David Bowie.
Ele rodeado de gente, transpirava alegria, boa disposição.

Mergulhada num mundo a preto e branco, de sons frios e cinzentos,
a imagem dele, simples, quente e colorida,
despertou nela a sua curiosidade “teenager”.

E foi assim...
Do alto dos seus 17 anos,
sedentos de rebeldia e contestação,
Ela aceitou o desafio de conhecer, com ele, um mundo novo.
Um mundo que ela desconhecia... ser, afinal, também o seu !
Dele ... foi a pureza ingénua,
(qual “Sassá Mutema” de Lima Duarte)
que acordou a ternura dela num coração já maltratado.
A indiferença deu lugar à palavra. A arrogância à alegria.
Aos poucos ela ganhou cor, ritmo, energia, vida (!),
O seu rosto sério, cansado, cedeu a um sorriso esquecido.

Das conversas no Sr. João, ao ritmo de garrafas vazias,
às gargalhadas cúmplices nas aulas de anatomia,
o encontro foi estreitando diferenças, complementando antagonismos.
Dos “charros” fumados escondidos às festas loucas na faculdade
a partilha foi desvendando a essência, um olhar comum sobre a vida...

Tudo se passava sem que um e outro soubessem
que, naquele dia - a - dia agitado, frenético,
surpreendente e tão intenso,
algo se construía de forma sólida, e irreversível!!

Ele abriu-lhe a porta para uma nova forma de vida,
algo que ela buscava há muito, sem solução, sem saída.
Mostrou-lhe a alegria e segurança de uma vivência sem medo, em paz.
Foi passaporte para nova casa: Um lar adoptivo de órfãos temporários!
Devolveu-lhe, da forma mais doce... uma verdadeira família!
Foi pai e mãe, irmão e amigo.
Atenuou dor, cicatrizou feridas.
Provou-lhe ser possível existir em harmonia.

Mais tarde ela desejou...
garantir a presença dele para sempre.
Foi algo que ela quis agarrar
como o maior tesouro do mundo,
Como um abraço eterno,
Um entrelaçar de mãos infinito...
Um sonho a dois que sucumbiu
aos desígnios e mistérios da vida...

Depois ...
Foi a tristeza e desilusão,
a mágoa de um “adeus” cruel, não desejado.
Hoje... são dois sobreviventes
da ironia e brincadeira do destino (?)
E têm o privilégio de conhecer
a certeza de uma união p sempre.
Uma ligação eterna...
Sem espaço, Sem tempo, Sem condições.
Um encontro mágico de almas,
para além das fronteiras deste mundo.


Cluni
25 Outubro 2005