ELOGIO À VIDA

Hoje sinto me
especialmente feliz
feliz por estar viva
e poder dizer que vos adoro
meus amigos.
Dizer-vos
como estou grata
pois a minha vida
sem voçês
seria desprovida
de sentido
e de alegria.

Agradeço muito
poder estar aqui hoje
(neste gabinete de trabalho
de que sempre reclamo
mas que, também hoje,
me parece particularmente agradável)
a escrever para voçês.

Agradeço
os nossos problemas
os nossos desatinos
as nossas enxaquecas
e até as dores de dentes!
Agradeço
as nossas vidas
tal como são!!!

Que se lixe tudo o resto
a falta de tempo,
as horas de trabalho,
os desgostos de amor,
ou a falta de dinheiro!
É tão bom estarmos vivos
tão somente para desfrutar
de coisas que não é preciso pagar, que,
tão pouco, têm preço:
PODER ESTAR COM QUEM AMAMOS
E ACORDAR COM A LUZ DO SOL,
SER TESTEMUNHA DO BRILHO DA LUA
OU UM VOYEUR DA BELEZA DO MAR!
SENTIR O VENTO NO ROSTO
OU TOMAR UM BANHO DE CHUVA!
VAMOS FESTEJAR..
O CAMINHAR DAS NOSSAS PERNAS
O PEGAR NO COLO UMA CRIANÇA
O ESTENDER A MÃO A QUEM PRECISA
VIVA OS NOSSOS OLHOS, O NARIZ E OS OUVIDOS
VIVA OS BRAÇOS, AS PERNAS, E AS NOSSAS MÃOS...
VAMOS CELEBRAR TAMBÉM
O BATER DO NOSSO CORAÇÃO!!!

É assim que me sinto hoje,
grata por tudo o que eu, e voçês, MEUS AMIGOS,
temos de tão precioso:
uma vida maravilhosa,
a pedir pra ser vivida
com mais intensidade e gratidão!

Hoje convenci-me que tinha chegado
a minha hora,
que, definitivamente, ía fechar os olhos,
e deixar para sempre
esta existência que tanto amo.

Senti o medo, o pavor e desespero
de quem vai deixar de existir!

E nesses minutos
de puro pânico
lembrei-me de todos voçês.

A vossa imagem tornou-se mais nítida
na minha mente confusa.
O vosso riso ganhou forma
em jeito de eco nos meus ouvidos,
E o vosso abraço, hoje mais forte,
foi-me embalando na melodia da vossa voz
(que hoje descobri estar gravada em mim!)

Mas o tremer do meu corpo
aqpavorado e receoso,
batia-se numa luta desigual
prisioneiro da minha mente.
O bater descompassado
do meu coração, em sobressalto,
as minhas mãos trémulas,
presas fáceis do meu medo,
tomaram conta de mim
da minha razão
da minha fé.

E naqueles escassos instantes,
de dúvida e descrença,
pertubava-me a ideia
de uma despedida abrupta,
sem tempo nem cerimónia.

O pavor da perda
ganhava terreno,
e o meu corpo agitado
sucumbia aquela sensação
de puro terror: a ideia de não haver amanhã.

Mais do que partir
assombrou-me a vossa ausência.
O pavor de não voltar a ver
a minha (loucamente) querida mãe,
os meus adorados irmãos,
a minha princesinha Mari,
e voçês, meus insubstituiveis amigos!

Depois,
talvez no mistério do vosso sono,
voçês pegaram -me ao colo
( cumplices ignorantes
de uns quantos xanax´s
de efeito tardio...)
E, aos poucos,
foi ficando a serenidade,
a saborosa acalmia que se instala
depois destes episódios,
e, hoje, especialmente,
a eterna gratidão
por tudo, uma vez mais,
não ter passado de um susto,
de um mísero e reles
ataque de ansiedade!!!

Por isso,
quando voltei a acordar, já hoje de manhã,
invadiu-me esta enorme felicidade
de ainda estar por aqui
de saber que vou poder estar convosco,
com alguns hoje, outros amanhã,
na maravilhosa ignorância
da hora da despedida!

GOSTO MUITO DE VOÇÊS
(é nestas alturas que sentimos mesmo
NUNCA É DEMAIS DIZÊ-LO)

Cluni