quarta-feira, outubro 19, 2005

ATÉ SEMPRE!

O medo de me enfrentar
e assumir perante mim própria
o caminho que não escolhi
mas que a vida me levou a tomar...
O receio de estar mais perto
do sentimento que me corroi a alma
desde o dia
do nosso "Adeus"...
A falta de coragem
e confiança
no que faço, no que digo,
no que sinto...

...afastaram-me, todo este tempo,
do encontro com as minhas palavras!

A dor foi sempre maior
que a vontade de me entender
numa ou outra emoção
revelada na minha escrita.
Não sei porquê agora
a decisão de pôr no papel,
de revelar o que, há tanto tempo,
atormenta o meu intimo secreto.
Só sei que...
é urgente olhar de frente,
sem medo ou culpa,
a angústia da despedida!
Não sei porquê hoje
a súbita explosão do meu sentir,
tão intenso, contraditório,
tão lúcido quanto desconexo.
Um sentir tão puro quanto imundo
tão corajoso quanto cobarde...

Sei que...
foi algo que quis abraçar
como a maior pérola do mundo,
que quis apertar para sempre
sem senso ou razão explicáveis.
Apenas possível dentro de mim.
Só com sentido no meu mundo.

É impossível falar...
(Não há palavras tão dignas !)
Falar deste amor que não venceu,
que sucumbiu à ironia da vida...
Um amor que se afogou na imensidão
deste estranho mundo que nos engole,
que nos enebria com ilusões
e vulgariza o que há de mais nobre
na procura do que (hoje sei)...
...definitivamente não existe!!!

Não há forma de expressar
o desenlace de uma união
que, dentro de mim, não terá fim.

Somente a tristeza no meu olhar perdido,
ou a falta de norte que marca o meu dia,
Somente a dor que desfeia o meu rosto
já gasto e saudoso do meu sorriso de menina,
Somente o desespero que dá voz ao meu silêncio
o terror e o medo da separação ou da perda (?)
um pavor que fica escrito
nos breves instantes de encontro...
Somente a minha alma aflita
que tenta vencer o sofrimento
poderá dar nome ou sentido
ao que vivo no momento!

Sinto a tua dor e tristeza
no pulsar do meu coração,
sinto a tua solidão
em momentos que não devia...
Sinto rolar no meu rosto
as lágrimas que já secaram em ti!!!
É a tentação do regresso,
entrar de novo no teu caminho,
e atenuar o teu sofrimento
no meu abraço sentido.

É querer ser fada mágica,
e apagar todas as mágoas
que eu fiz nascer em ti.
Fazer explodir com o meu carinho
dor, raiva ou desespero,
anestesiar-te com a ternura,
que, sem tamanho ou dimensão,para sempre vou sentir.

Não sei se próxima ou distante
mas vou estar sempre ligada a ti.
Por este amor que sucumbiu
ao que o nosso mundo ditou
ser possível ou aceitável
entre o homem e a mulher!
Este amor que desconheço
entre o comum dos mortais,
e que a sociedade baniu
da relação homem/mulher...
Que estranho mundo em que vivemos
que condena e martiriza
o mais puro dos sentimentos,
Que nos alicia e tenta
com o que é efémero e sem futuro.
Que vida fútil e enganosa
que proibe amor tão sincero, desinteressado,
este amor que me uniu a ti
desde o início... até sempre!

Gui
Dezembro 1999


NATAL TRISTE

Senti ao longe o odor
o sabor amargo
de outras noites.

Noites iguais
cópias de tantas outras.

Noites frias,
Noite nuas,
vazias de alegria
despidas de calor humano.
Noites que quis esquecer
Guardar eternamente
nos recônditos mais secretos
das minhas memórias.

Mas...noites!

Noites que todos anos se (re) acendem
como vulcões adormecidos,
que sobressaltam o meu espírito
e trazem de volta
o gosto amargo de ontem.

Noites que o pai natal me devolve
em jeito de melodia triste
que, sem eu queira,
me embala
lembrando-me
a tal criança... sem colo.

Cláudia
Dezembro 2001

"ROBIN"

Corri atrás de um sentimento
algo sem lugar para palavras.
Fui movida por uma vontade
maior que todos os medos,
e deixei-me apenas levar
pelo desejo que sentia.

Quis tornar real
a fantasia já antiga.
Transformar o que sonhava a sós
num momento de sonho a dois.
Quis desvendar perante mim própria
o que nem eu entendia,
Quis talvez explicar
o leve tremer do meu corpo,
e dar nome a um sentimento
desconexo e sem sentido (?)

Então...
Venci o medo da perda
o pavor da desilusão,
deixei para trás o meu mundo,
fiz o que a vontade dizia,
sem saber que embarcava...
numa viagem sem retorno!!!

Foi assim que cheguei
até junto de ti.

Depois...
Só sei que os relógios realmente pararam,
e, enquanto estivémos suspensos,
fora do espaço e do tempo,
foi tudo igual (ou melhor)
do que o meu sonho contava.
Tudo tão ou mais bonito
que a minha fantasia!!!

Só queria pedir ao tempo
que esperasse por mim e por ti
e que a vida nos reservasse
mais momentos a dois!

Cláudia
Abril 1999

UMA VIDA SEM TI

Não penses que te esqueci.
Apenas sinto
que só o tempo
me ajudará a aceitar-te...
...aí, onde estás (?)

Vivo os dias
as horas e os minutos
como um caminho,
um percurso até ti.

já não me importo
com a hora
em que, também eu,
vou partir.
Apenas sinto
a dor da tua ausência.

Não te quero triste
preocupo-me contigo
como se ainda
estivesses cá.
Talvez por isso me engane
(e a ti também)
quando, todos os dias, te digo
"Bom dia, pai, eu estou bem".

Apenas te desejo paz.
Uma paz que não encontraste aqui
que eu não encontrei ainda também.
(Será que ela é possível...deste lado?)
Mas uma paz...
que tu mereces sentir!

Desculpa não ter conseguido
salvar-te.
Pergunto-me
se te lembras de mim...
Dos nossos momentos de luta
sempre à beira de um "Adeus"...

Um "Adeus" que não quis aceitar,
mas que a vida se encarregou
de me devolver...cruelmente!

Cláudia
Abril 1999

PAI

É a tristeza somente
a maior saudade do mundo,
como se parte de mim
estivesse suspensa no ar
(no céu ???)
Uma parte de mim que partiu
Que não mais vai voltar.
Algo que buscarei
incessante, sem resposta.

Algo que sinto crescer
em cada dia que passa,
como uma folha em branco
de um livro sem palavras.
Um livro que amareleceu
sem tempo para ser escrito.

É assim que te sinto,
algo que nunca se definiu
nem sequer teve nome
mas que existiu sempre:
no mais fundo de mim!
Umas vezes escondido,
algures revelado,
num ou outro acaso
de um momento partilhado.
Algo que quis revelar
mas que o orgulho ocultou.
Algo que o nosso passado
quis arrancar de mim própria.

Mas...
o amor foi-se revelando
em cada batalha mais dura,
em cada luta por uma vida...
que acabou por morrer.

Amo-te Paizinho.
Hoje e sempre.

Cláudia
Março 1999

Uma Sombra ?

No começo era uma sombra
um misto de corpo e mente
invisíveis ao meu olhar desatento.

Uma sombra
Uma porta.

Uma porta entreaberta
tão discreta quanto atraente,
Uma porta nua
vazia de conhecimento
e juízo de mim.
Uma porta sedutora
que despertou a vontade
de conhecer o outro lado.

Foi assim que chegaste
até junto de mim.

Depois...
Só sei que fui surpreendida
pela minha fantasia.
Saboreei de olhos vendados
o que o próprio sonho ignorava.

Acordei
com sabor doce na alma,
que há muito não conhecia,
E nunca cheguei a saber...
se te abraçei
enquanto dormia...

Cluni
Dezembro 2001

VIAGEM...AO CENTRO DE MIM!

Sei que já estou perto...
mais perto de mim.
Sei que já estou comigo:
independente dos outros.
Ainda assim...
estou só.
Inevitávelmente só.

Pulo de colo em colo
anseio por complemento.
Tarda? Existe?
Ainda assim...
(Sobre)vivo.

Existo com a intensidade
que há pouco julgava impossível.
Tento agarrar pormenores
que outrora pensei banais,
e (re)vivo momentos
que em tempos não dei importância.

Sinto-me...viva!

Sinto-me parte,
parte de um barco sem rumo
sem origem (?)
sem destino (?)
Mas onde tenho
e quero (!!!)
viajar.

Navego hoje
mais atenta,
sem querer saber
para onde vou.
Vou estando
mais ou menos presente
com os que, comigo, inventam
a minha própria existência.

Valorizo o percurso,
desdenho a meta final,
procuro extasiar-me
com a vivência
abstrair-me do seu sentido.

Tento embriagar-me
com o sabor dos dias sem fim,
e disfarçar a impaciência
dos minutos que correm...
implacáveis!!!

Cluni
14 Maio 2004

terça-feira, outubro 11, 2005

PURA AMIZADE

No início ...
foi simpatia,
Talvez respeito
ou educação (?)
Fruto de um passado imposto
e construído
muito antes de nós.

Depois ...
Uma relação “através”...
(inter) mediada
por ente querido
amado de parte a parte.
Ainda assim...
Uma ligação
Imposta, obrigatória, inevitável.

Mais tarde ...
O primeiro encontro:
Numa carruagem
(de vida) comum!
“Vítimas” contentes
da mesma pressa
da mesma procura
da mesma ausência de destino,
Inseparáveis companheiras
dessa viagem
perigosa, de risco presente
alucinante, sem noção de limite
Que é a adolescência.

E foi aí...
nesse lugar sem nome
ausente de espaço e de tempo,
nessa correria desobediente
onde a loucura foi o mote...
...que se olharam e viram
pela primeira vez!
Esse cruzar de olhos
que viria a durar...para sempre!

Depois...
foi a imensa alegria
dos primeiros passos...da amizade!!!
Uma alegria celebrada
entre copos e gargalhadas
Eternamente renovada
em trôpegos abraços
Comprometida para sempre
nas confidências embriagadas.

E foi no meio
Dessas conversas dopadas
(de pureza e honestidade)
Desses choros convulsos
(sem uma razão, sem um “porquê”)
Desses risos desmesurados
(onde se festeja, somente, a vida)
... que elas sentiram a força,
o magnetismo do sentimento,
qual laço de sangue,
que iria uni-las até hoje.

Foi precisamente aí
nessa partilha sem cobrança
repleta de sonhos
e imagens mágicas do futuro...
(que só a juventude,
virgem de cicatrizes, conhece)
que elas se (re)baptizaram
“Cris” e “Mafaldinha”
Para sempre!