quinta-feira, junho 03, 2004

O PRÍNCIPE

Não sei se sou eu
que, por muito ou pouco amada,
insiste em procurá-lo...
Não sei se é o destino
que me depara com ele
dentro de mim

Não sei, tão pouco,
se o quero manter vivo
ou afastá-lo
do meu pensamento

Mas sei
que ele não vai embora!
Não desaparece o sonho
a ilusória paixão
por alguém
que nunca existiu.

O desejo imenso
de um corpo que não toco
o prazer sem limites
num contacto
que nunca houve...

Sei que
tudo permanece
intacto
no meu imaginário.
Sei que
continuo a viver
momentos irreais
sem fundamento.
Experiências de irrealidade
que, dentro de mim,
explodem
como pequenos vulcões
em chama...

Destruindo, pouco a pouco,
todas as minhas certezas
e, de forma irreversível,
os alicerces
da minha existência...

Bloguie (98)

COMO SE FOSSE...

Como se fosse...
uma gota de água
que sobre mim cai
sem aviso
E me deixa assim
tão inquieta quanto serena
pela surpresa já repetida

Como se fosse...
um estado cíclico de paixão
que toma conta de mim
e me faz repensar
o bem e o mal
o certo e o errado
eu e os outros!

Como se fosse...
uma força da tentação
um enviado do pecado (?)
que tão depressa
me assusta
como atrai e seduz
quase por hipnose

Como se fosse...
um íman
tão poderoso
que me puxa
sem que eu resista
(sem que eu queira resistir!!)

E me faz mergulhar
uma vez mais
numa fantasia de amor
que só eu conheço
e que, afinal,
só eu vivo!

Bloguie (98)

IRMÃOS

Ao fim de tanto tempo
mergulhados num silêncio
tão doloroso, irracional...
Depois de uma vida
partilhada sem palavras
Num espaço comum
á beira do caos...

Depois de anos a fio
como estranhos
num sofrimento escondido
(sem lugar para o outro)
Depois de uma nuvem de fumo
que insistiu em ficar...tempo demais!
Depois de um tempo cego e surdo
onde era dificil ver, ouvir, falar...

Finalmente o encontro!!!
A imensa alegria
de abraçar o irmão "perdido",
a estranha sensação
de termos nascido...outra vez,
e de algo mais forte
(que os próprios laços de sangue)
nos ter, realmente, juntado.

A explosão súbita de um amor
tão antigo como nós próprios
que nunca se dignou revelar...
Faz-me sentir-nos
como destroços de guerra (!)
dois sobreviventes do caos
à procura de si próprios...

E é então
que me sinto abraçar
pela enorme felicidade,
algo que se vai desvendando
...em cada dia que passa
de descoberta e partilha,
...em cada muro que, aos poucos,
de mãos dadas saltamos,
...em cada barreira que o tempo
vai ajudando a derrubar,
...em cada momento
que, cada vez mais, reafirma
a nossa condição de irmãos!!!

Bloguie (98)

UMA IRMÃ DE 4 PATAS

Nunca tinha visto
um olhar semelhante
um sofrimento ausente
uma proximidade distante

Sinto a nostalgia
de tantos momentos vividos
a alegria dos teus latidos
ecoa, hoje, nos meus ouvidos

Sinto a confusão
de alguém que é humano
como é possivel amar
um cão (!!!)
como a um mano

Depois de tudo
fica o teu olhar
naquele instante
tão perto de mim
e invulgarmente distante

Sinto a tua dor
nos teus olhos aflitos
consigo ouvir
no teu silêncio
a tua alma aos gritos!

És a minha irmã
peluda, de 4 patas,
ficarás dentro de mim
mesmo que, em breve, partas...

Bloguie (98)

quarta-feira, junho 02, 2004

A NOITE

Eu mulher,
menina indecisa,
vagueando nas luzes
voando na música
na noite de Lisboa.

A multidão
colorida, embriagada,
empurra-me
enebria-me
faz-me sentir...quem não sou!

À minha volta
um amontoado de rostos
rostos sem nome
alguns sem mais nada
rostos, apenas.
rostos de gente
(gente que sou!)

Gente gira,
gente feia,
gente vestida
de falsas imagens.
Gente com vida
gente vazia
mas...gente!
Gente presente...e ausente!

Corpos sem mente
que se arrastam
na multidão anónima
de uma noite sem destino.
Corpos confusos,
de gestos perdidos,
que se embalam
no fumo de um cigarro
num copo brilhante
que insiste
em estar vazio...

Apenas gente.
Gente que me abraça
numa valsa de fantasia
onde nem eu
me conheço,
onde é dificil encontrar-me.

E é nesse instante
que procuro as estrelas
Não vejo nada..
só noite.
Uma escuridão que me afaga
como uma noite
de amor,
uma cegueira que arde
todas as minhas certezas...

Procuro a razão.
É a verdade que anseio.
Continuo irracional.
Ofusco e apago
tudo o que penso doer-me.
Afasto (não nego)
a realidade sofrida.
Abraço (é certo)
a fantasia
que me é querida!!

Bloguie (98)

MEDO

Aquele sentimento
de estar completamente só
que, sem saber como,
me visita.
Tão de repente que
surpreende
consome
faz sofrer.

A certeza de nada haver
para além...de mim própria.
A evidência do meu ser
no mundo...só.
Eu....só!
A sensação de apenas eu
poder cuidar de mim

Fazem voltar
...o medo!

A insegurança que
tenho em mim,
a necessidade doentia (?)
da presença do outro,
preenchem cada dia meu
e alimentam os meus fantasmas...

A incompreensão
perante aquilo que sou,
os olhares, reprovadores,
que finjo ignorar,
constroem, cada vez maior,
o muro enorme
que me separa....do mundo!!

Bloguie (98)

terça-feira, junho 01, 2004

EU, MULHER!

Escondo-me
atrás
do modo de vida que escolhi,
da mulher
que quis ser
e que, hoje,
não me diz nada.

Falta-me a coragem
a dignidade
necessáriamente humana
para me enfrentar
e reconhecer:
o sonho acabou.

Existe o castelo
o príncipe é perfeito
tudo como imaginei
mas...
a princesa não é feliz.

Que medo irracional
de enfrentar
a desilusão!!?...

Um sonho de menina
que me visita
ainda mulher
que, provavelmente,
nunca transcenderá
os limites
do real!

A vida como ela é?

A insistente busca
no imaginário
de algo que se encontra
perdido,
que, secalhar,
nunca existiu,
deixa-me longe de tudo
numa existência ausente
e pouco real.

Preciso acordar a princesa!
Preciso enfrentar a possibilidade
de ficar só!
O Medo comanda os meus passos
dirije a minha vida. Porquê???

Bloguie (97)

AMOR DE PAPEL

Nesta folha de papel
imagino o nosso encontro.
É aqui que tem lugar
a nossa relação (?)

Uma relação
tão intensa, quanto ausente
sem lugar
para palavras.
Tão próxima, quanto distante
onde o racional não existe.

Uma relação
que só eu vivo,
como se estivesses
comigo.

O desejo de te ter
sem olhar para o relógio.
A vontade de te tocar
sem a pressa de ir embora.
A loucura de te sentir
sem que descubram o que sinto...

É assim que existes...
dentro de mim.
Tão real que me assusta
porque me sinto
a deixar ir...

Sinto o teu corpo, à noite,
tocar o meu.
Sinto a tua boca na minha,
A tua mão
na minha mão.

Oiço a tua voz
como se estivesses...aqui.
E fico a olhar-te,
a ver-te desaparecer.
A horrível sensação
da perda.

De não poder fazer o que quero,
de não poder ter quem desejo,
de não poderes ser meu
(nem saber se quero ser tua...)

É assim que existimos...
nesta folha de papel!

Bloguie (97)

PAIXÃO

Como se existisses
há muito tempo
sinto-te dentro de mim.
Recordo momentos
que nunca existiram
com a intensidade própria
de quem os viveu há pouco.

Sinto a ansiedade
do encontro.
O tremer do meu corpo
no breve contacto.
O desejo escondido
no nosso discreto (?) olhar.

Uma vez mais
o castelo.
Onde sou princesa.
(Tu? O meu príncipe?)
Aqui continuo
à espera de ti.

À espera que o futuro
me diga
se o que imagino
é real,
se o que desejo
é possível,
se tu, como te desenho,
realmente existes!

Vagueio nos meus pensamentos
lembro ao ínfimo pormenor
os escassos momentos
que foram só nossos
(no acaso fugidio de uma ou outra noite.

Procuro algo
que me diga
qual o caminho.
Voltar para trás?
E se fores tu?!

O alguém que idealizei
em menina,
que desejei
já mulher,
e que nunca
se dignou...aparecer!!?

Bloguie (97)

SONHO DE AMOR

Ao fim de tanto tempo
aqui estou.
Uma vez mais a viver
o que só existe
dentro de mim.

A viver o sonho
que eu própria construo
que o meu pensamento alimenta
dia após dia.

Pergunto-me pelo início
procuro encontrar...
a razão.
Ainda assim permaneço
envolta neste mundo
onde a fantasia é maior
Mais forte q a realidade.

A minha realidade!
(que me devia abraçar
justo neste momento

Algo me diz para recuar
o passado quer avisar-me
tenta, a custo, proteger-me
tudo me diz para parar...
Porque continuo...aqui??

Neste estado hipnótico
que me adormece e acorda
num sono agitado
tão fantástico quanto irreal.
Vivo em sobressalto
coração descompassado
Mas...sinto-me viva!!!
Aqui estou eu.

Uma vez mais a gostar
quem não conheço.
A desejar ter
quem não posso!
A construir
dentro da minha cabeça
a partir do nada
...uma grande história de amor.

Bloguie (97)

INSATISFAÇÃO

Sai de mim
sem que consiga evitar
e percorre o meu corpo
fazendo-me sentir
o que, hoje, já não sinto!

Lembrando-me o q deixei para trás
e quase me levou à loucura.
Ainda assim...
fico lá, nesse estado ausente
de pura paixão!!!

À espera
que algo aconteça,
e me faça sentir
o que dantes sentia
e me tornou mulher.

Não sei se é o desejo
a necessidade de contacto
a constante insatisfação
ou a obsessão
de ser amada!

Sei que continuo assim.
Amando quem quero para sempre,
mas com vontade
de sentir
paixão, encanto, sedução...

Ser tocada, tocar,
amar momentaneamente,
e deixar o meu rasto
sentir-me nesse alguém
que faço parte dos segredos
desse alguém proibido.

Tudo o que não posso ter
atrai-me.
Como que me fascina
deixando-me num estado hipnótico
que me faz
ir sempre em frente
sem pensar
que, talvez,
tudo se quebre...

Bloguie (97)